terça-feira, outubro 24, 2006

A Lei do Aborto

A Lei do Aborto

O REFERENDO sobre o aborto vai realizar-se novamente. Se votarem mais de metade dos portugueses o resultado é vinculativo. Se ganhar o SIM o aborto será legalizado. Se ganhar o NÃO, as forças pró-aborto vão pressionar o governo de forma a desvalorizar o referendo e legalizá-lo de qualquer forma. Conclusão: o referendo é um desperdício de tempo e de verbas.

O ABORTO já está previsto legalmente para as situações mais delicadas. Com a legalização que se pretende com este referendo o que vai acontecer é que as mulheres que vão a Espanha abortar já não terão necessidade de ir, e as que abortam ilegalmente em Portugal já não serão condenadas.

AS MULHERES não engravidam sós. Os filhos gerados nunca são só delas. Ainda que tenham condições para tomar a decisão de abortar, não lhes devia ser permitido fazê-lo isoladas. Ainda que a gestação aconteça apenas no corpo delas, a geração começou com a união dos corpos, que elas aceitaram. Os homens também deviam ser chamados à responsabilidade.

A LEI é igual para todos. Este é um chavão assumido. E é ele que produz a injustiça. Porque as mulheres da classe alta saem de Portugal para abortar os filhos que podiam – mas não querem – criar, e permanecem impunes. Enquanto que as mulheres da classe baixa abortam em Portugal os filhos que não podem criar e são condenadas. A lei, para ser justa, devia deixar de ser igual para todos, condenando as mulheres que abortam e têm condições para criar os filhos, e ajudando as mulheres que engravidam e não têm condições para criar os filhos.

OS VALORES em questão são mais económicos que humanos ou morais. Aqueles que defendem o aborto apenas desejam o próprio bem-estar, com comportamentos sexuais irresponsáveis, pois para ajudar as mulheres desprotegidas deviam antes investir na prevenção da gravidez, num melhor planeamento familiar, relacional e sexual, criando nelas mais auto-domínio para responderem de forma menos instintiva e irresponsável aos desejos sexuais próprios e dos outros.

A VIDA é demasiado especial e séria para que se brinque com ela. Quem a defende não precisa de se preocupar com este referendo porque, legal ou ilegal, o aborto nunca fará parte da sua realidade pessoal. As mulheres que abortam, e os homens que as apoiam, apenas provam a incapacidade para dominar os instintos de que a natureza lhes proveu. Aqueles que não chegam a nascer seriam infelizes ao saber que assim eram os seus pais.

Sá Lopes, Braga

segunda-feira, julho 10, 2006

Blogs, Bebés de Direitos da Criança

(artigo)


Blogs, Bebés e Direitos da Criança

Agora que está tão em voga o Plano Tecnológico do nosso Governo, em que todos os dias novas medidas no campo da tecnologia e informática são anunciadas, deveria ser pensado que consequências tais facilidades desse novo, e maravilhoso, mundo virtual, podem advir.

Proliferam aos milhares os blogs de pais babados, que desde o dia da concepção até… – não se sabe quando (provavelmente até ao dia em que os seus filhos cresçam e os condenem por tal) – publicam tudo o que se passa com eles – relatos, fotos, vídeos, o que fazem e o que não fazem, sorrisos e birras, alegrias e tropelias, a vida [e até a morte] – como se de troféus se tratasse. Porque não está ali qualquer acção originária dos bebés e crianças, mas apenas as ideias e opções dos seus pais, muitas vezes escondidas no anonimato, ou sob pseudónimos ou identidades falsas.

As imagens e as mensagens que passam em cada “post”, essas sim, são reais, bem expressivas das realidades de cada criança, quase sempre publicadas sem qualquer companhia, e responsabilização, adulta. E podem ser copiadas, usadas e abusadas por qualquer outra pessoa com qualquer outro tipo de intenções.

A Declaração Universal dos Direitos da Criança, no seu artigo 16º diz que a criança tem direito à Privacidade, à Honra e à Reputação.

Não estarão a ser violados os direitos das crianças, pelos próprios pais e familiares, nestas novas publicações?

Gostariam os pais destas crianças de verem os seus primeiros anos de vida expostos a quem tal desejasse?

Estarão os pais destas crianças dispostos a “apagar” estes blogs quando as suas crianças crescerem e assim o desejarem, depois da rede de relações – virtuais – que se criam durante anos de publicação?

Como vão eles um dia dizer aos seus filhos, já com ideias próprias, que todos têm, ou tiveram, acesso a toda a vida deles, desde que foram gerados?

Gostamos todos de recordar vidas cheias de sucessos, mas também todos gostamos de esquecer vidas menos bem sucedidas. E quantos destes blogs publicam essas vidas!

Quem defende estas crianças?!...

Sá Lopes

10 de Julho de 2006

terça-feira, julho 04, 2006

Metacognição: Pensar sobre o Pensamento

(artigo recuperado)

Metacognição: Pensar sobre o Pensamento

O ser humano não é como um brinquedo electrónico pré-programado para interagir com quem o vai usar e desenvolvendo-se conforme seja manipulado, com a condição de, se esse desenvolvimento não acontecer conforme o desejo do manipulador, poder ser reiniciado. O ser humano não possuí uma tecla a dizer “reset” que se possa premir para começar tudo de novo.

Apesar de todos os indivíduos possuírem naturalmente estruturas e faculdades físicas e mentais que lhes oferecem condições para terem uma vida inteligente, consciente, racional, auto-regulada, e de respeito para com os outros e tudo o que os rodeia, usando toda a liberdade desejada a par da responsabilidade exigida, poucos são os que fazem um uso inteligente e eficiente dessas características, pois a grande parte não reconhece a existência das mesmas, porque não pensa sobre elas.

A metacognição - -processo cognitivo que se aplica a si próprio, ou seja, o pensar sobre o pensamento - - encontra-se num crescendo reconhecido como aspecto fundamental da psicologia humana, definindo-se pelos seguintes atributos: o conhecimento que o individuo tem dos seus próprios processos cognitivos; a tomada de consciência desses processos; e o controlo que o indivíduo tem dos seus próprios processos mentais.

Iniciando-se na década de setenta e apoiando-se inicialmente nas teorias do processamento de informação, a metacognição surge na corrente cognitivista positivista, fomentando a importância do reconhecimento dos processos cognitivos, não só no que respeita ao processo em si, que possibilita um uso mais adequado das capacidades de percepção, atenção, memorização e compreensão, permitindo uma maior auto-regulação, mas também no que respeita à aplicação eficiente do mesmo, desempenhando um papel importante em áreas fundamentais como a aprendizagem escolar, a comunicação oral e escrita, a produção escrita, o desempenho de tarefas, e a resolução de problemas de ordem social, interpessoal e emocional.

A metacognição expande-se no mundo científico essencialmente devido aos elaborados programas educacionais que actuam no sentido de permitir ensinar a pensar, ou aprender a aprender, tentando fazer com que o indivíduo conheça os seus próprios processos cognitivos, que tome consciência deles, e que tenha o maior domínio mental possível sobre os mesmos, e tendo consequentemente uma maior auto-regulação emocional e comportamental.

Se estes programas funcionassem efectivamente poder-se-ia considerar a sua função análoga à dos brinquedos electrónicos, mas o ser humano não é pré-programado logicamente, e quando possui capacidade para operacionalizar mentalmente informação é já possuidor de estruturas cognitivas, que se vão desenvolvendo ao logo do tempo. Por esta razão faz mais sentido considerar a metacognição numa perspectiva desenvolvimental reconhecendo que o indivíduo pensa quando possui estruturas que lhe permitem pensar e se deseja pensar sobre o próprio pensamento, esse pensar será condicionado por essas estruturas. Desta forma, se determinados programas educacionais não forem aplicados em tempo adequado perder-se-ão, pois as condições naturais do indivíduo para aceder a esses programas serão modificadas e tornar-se-ão irreversíveis.

Reconhece-se, assim, que a problemática da metacognição existe nas vertentes individual e social. Se o objectivo da ciência em geral, e da psicologia em particular, é caminhar no sentido de construir um mundo melhor, o papel da metacognição interfere nessa construção exigindo um reconhecimento por parte do sistema social/governamental/educativo das características cognitivas e desenvolvimentais existentes em cada indivíduo e actuar no sentido de explorar essas características, visado formar cada ser humano mais autónomo, mais consciente e mais integrado numa sociedade mais justa e mais humana.

No entanto, são ainda colocadas muitas questões relativamente a metacognição, tais como: Serão as actividades metacognitivas similares aos processos cognitivos quanto ao modelo estrutural, ou representarão categorias separadas? Como pode um indivíduo reflectir sobre os seus próprios processos cognitivos? Poderá o conhecimento metacognitivo afectar as decisões comportamentais, nomeadamente as de forte impacto emocional? Serão os processos cognitivos iguais em todos os indivíduos? Como pode um indivíduo saber o que sabe, ou saber o que os outros sabem? Como tem acesso aos seus próprios pensamentos, sentimentos e atitudes? Que precisão existe nos pensamentos, sentimentos e atitudes próprias, e que precisão existe sobre os pensamentos, sentimentos e atitudes dos outros? Os processos que regem o auto-conhecimento serão iguais aos que regem o conhecimento dos outros?...

Embora hajam estruturas e processos cognitivos análogos em todos os indivíduos - somos seres humanos e não de outra espécie - cada um é fruto de um desenvolvimento particular que influencia a percepção de si próprio e dos outros. E como a estratégia de reconhecimento e desenvolvimento das capacidades metacognitivas consiste na experiência individual, inclusive através da repetição/treino, ainda que para muitas metas da vida essas capacidades sejam decisivas, para outras, talvez as mais importantes, toda a metacognição é dispensável: nenhuma mulher treina o nascimento de um filho.

Lopes (ano 2000)

quarta-feira, abril 05, 2006

Meta-o na boca e chupe!

Artigo-provocação


Meta-o na boca e chupe!

“Há uma coisa que é redonda, comprida, e com a ponta vermelha, que você, com muito cuidado, abre o lugar onde esta se encontra e tira-a para fora com os dedos, sem machucar, e depois, mete-a na boca, e chupa-a. Chupa-a até não poder mais. E isso dá-lhe muito prazer! Você gosta tanto de o fazer que o faria em qualquer lugar, e está sempre à espera de uma oportunidade para o fazer. Porque da ponta dessa coisa redonda, comprida e com a ponta vermelha, sai outra coisa, que entra pela sua boca, e esse entrar e sair sabe-lhe muito bem e deixa-o muito satisfeito!...”

Este seria o texto que eu sugeriria se me fosse pedido para participar numa campanha anti-tabaco. Porque defendo que uma campanha para ter efeitos nas pessoas alvo a quem é dirigida deve tocar em aspectos que os afecte de forma subliminar e não directamente.

Senão vejamos, a campanha onde é usada a expressão “fumar mata” é excessivamente explícita, e por isso não provoca o efeito desejado. Realmente “fumar mata”, mas conduzir mata muito mais, até trabalhar mata mais que fumar!

Agora, se sempre que uma pessoa acendesse um cigarro, estivesse presente a ideia, nessa pessoa ou nas pessoas próximas dela, que aquele acto se assemelha muito do acto sexual oral masculino – felação – e este acto se pratica com muito pudor, e na maior parte das vezes mais para obter segundas recompensas do que propriamente por prazer, provavelmente tal pessoa pensaria melhor antes de acender o cigarro.

Por um lado provocaria um efeito social. E não há efeito mais eficaz que o provocado socialmente. Os outros olharem, comentarem, ou imaginarem que o fumador faz o mesmo que faz o praticante de sexo oral masculino… E quantas provocações ou graças não se poderiam criar a partir daqui, sabendo que a brincar se vão dizendo coisas sérias, criando reacções nas pessoas alvo da graça, e atenuando a provocação directa.

Por outro lado provocaria um efeito psicológico. O próprio fumador ao fazer o mesmo emparelhamento de ideias, reagiria de acordo com as suas concepções mentais sobre os dois actos. E só quem realmente gostasse de praticar sexo oral em homens não colocaria aqui qualquer obstáculo.

Registe-se que não há aqui qualquer condenação pessoal aos fumadores. Estes estão inclusive a ser vitimas de discriminação - de alguma forma semelhantes a muitas outras camadas sociais – por lhes serem retirados direitos adquiridos, pois podiam fumar em qualquer lugar e deixaram de poder. Mas terão que ser os próprios a defender os seus interesses.

Registe-se também não haver aqui condenação para aqueles – ou aquelas – que gostam de praticar sexo oral – principalmente aquelas… - inclusive já tive um autocolante no vidro do carro a dizer “sorria, é a segunda melhor coisa que pode fazer com os seus lábios”.

Sá Lopes

5 de Abril de 2006

quinta-feira, março 30, 2006

Queremos nascer políticos!

artigo-opinião


Queremos nascer políticos!

É muito curioso o comportamento dos políticos quando estão em debate questões que afectam directamente aqueles que os elegeram. E esse aspecto observa-se melhor quanto menor for a distância entre ambos, nomeadamente no poder político local, onde os eleitos e os eleitores podem, por ventura, cruzarem-se todos os dias nas mesmas ruas.

Vem isto a propósito do encerramento das maternidades e das posições que alguns defensores e opositores têm tomado. Seria um bom exemplo o caso da Governadora Civil que colocou fraldas à sua janela em protesto contra o encerramento de uma maternidade da sua região, protesto este que vem contra a decisão do governo que ainda recentemente a nomeou governadora - o que lhe terá provocado um grande dilema pessoal.

Mas pretendemos abordar a questão do encerramento da maternidade de Barcelos devido às posições que os representantes políticos desta localidade têm tomado.

O Presidente da Câmara de Barcelos, Fernando Reis, anunciou publicamente que a Câmara apoiará todas as manifestações que visem impedir o encerramento da maternidade local, incluído com a iniciativa de distribuir por todos os habitantes postais para serem enviados para o Ministro da Saúde. Apoiará, registe-se, com dinheiro da Câmara, isto é, de todos os contribuintes, incluindo aqueles que concordam com o seu encerramento.

O Presidente da Câmara de Barcelos (do PSD) já ocupa o lugar há muitos anos e sabe muito bem o que é que os eleitores querem. Logo, ao ver que a maioria dos habitantes de Barcelos se opunha ao encerramento da sua maternidade decidiu tomar uma posição clara e de forte impacto, que, mesmo não trazendo resultados para o problema, trará certamente resultados políticos.

Por sua vez, o deputado, de Barcelos, do Partido Socialista, na Assembleia da República, tem dúvidas em relação aos critérios que levaram à decisão sobre o encerramento desta maternidade, sabendo que há relatórios das investigações que indicam que este é o melhor caminho, necessitando ainda de mais informações para tomar uma posição mais definitiva.

O Presidente da Câmara não tem dúvidas, não tem nada a perder, e pelo contrário, tem muito a ganhar ao estar ao lado da população, ainda que “com irregularidades”. O deputado do PS tem dúvidas, e tem a perder, ou o apoio do partido ou o apoio dos eleitores, mas seria bom que tomasse uma posição, clara, para que o povo de Barcelos soubesse que posições toma quem o representa na Assembleia da República.

Mais do que a preocupação com o encerramento da Maternidade, os políticos estão preocupados com aquilo que esta decisão, por ventura errada, lhes poderá oferecer ou retirar, enquanto detentores de poder.

Sá Lopes

30 de Março de 2006

quarta-feira, março 15, 2006

O Homem como ser Psicológico

(Artigo Recuperado)

O Homem como ser Psicológico

O Homem – homem como ser individual com personalidade própria e/ou Homem como conjunto de todas as sociedades e civilizações desde os tempos mais primitivos até aos nossos dias – nasce, cresce, vive e morre como todos os outros seres vivos animais. Como animal que também é, pertencente à classe dos mamíferos, a espécie humana diferenciou-se dos outros animais devido a um maior crescimento natural do seu cérebro e a um desenvolvimento da fala que permitiu a criação de ideias, tornando-se o ser por excelência do planeta Terra.

A aplicação de ideias na prática fez com que o homem criasse artefactos que deram azo ao surgimento de novas ideias, que por sua vez serviram para a criação de novas técnicas e assim sucessivamente até aos nossos dias, onde somos confrontados com elevada tecnologia desde a física quântica e nuclear, passando pela informática e electrónica até microbiologia e genética e... sabe-se lá para onde caminharemos!...

A par desta evolução tecnológica, o homem presenciou outras evoluções na sua história: evolução política, económica, cultural e artística, religiosa e filosófica, e psicológica. Com grandes crises, muitos altos e baixos, mas sempre com tendência crescente... E até onde!? Terá o homem limites?... Certamente que sim!... Não terá o homem atingido os limites nesta perplexa evolução, sempre que alguém morre por causa não natural?

Nas diferentes evoluções acima citadas não teremos já atingido os limites em algumas delas? Tecnologicamente certamente que não – todos os dias se fazem novas descobertas. Economicamente não há limites. O valor do dinheiro é psicológico. Pode-se evoluir sempre aumentando os valores ou dando novos nomes ao dinheiro. Cultural e artisticamente não haverá limites porque são os limites da imaginação, e basta mudar uma frase num texto para um livro ser diferente, apesar da mesma ideia. Note-se que existe “Madame Butterfly” ópera, música, teatro, filme, e livro – e pode-se perguntar até que ponto é criação ou repetição/estar nos limites. Politicamente já se testaram todos os sistemas, e a democracia republicana, que parece ser o melhor neste momento, não o foi já na antiga Grécia? Religiosa e filosoficamente já todas as fórmulas e teorias foram testadas, e não passaram disso. É que neste campo, há duas saídas, ouse vive feliz na ignorância, ou por mais que se procure, por mais que se estude, o que se vai encontrar é o nada, o absurdo, ou a loucura.

O homem é física e psicologicamente limitado. Não se pode ultrapassar a ele próprio. Reparemos que após milhares de anos de evolução, o homem continua a ter as mesmas necessidades básicas para sobreviver, como respirar, alimentar-se, etc., como tinha antes de ter descoberto o silex.

Psicologicamente o homem é como um computador. Nasce com um corpo físico e com uma memória limpa. Aos poucos vão-se introduzindo dados e programas na memória dados: pai, mãe, rua, castigo, casa/ programas: se sair para a rua pai castiga. Educação familiar, catequese, escola, amigos, rua, televisão, cursos completos, empregos, casamentos, filhos, doenças acidentes, reforma... e a memória começa-se a perder por atingir a validade. Não atingiu os limites. Mas, se durante a vida acontecerem grandes desgostos emocionais, de amor ou perdas de entes queridos, grandes contratempos e desgraças, não se consegue o curso ou emprego que se deseja, e continua-se a tentar e começa-se a perguntar porquê? Introduzem-se dados e mais dados na memória para tentar saber porquê. E nunca surge a resposta e continua-se a tentar... até que, a memória se acaba. Para entrarem umas coisas apagam-se outras, baralha-se tudo, não se sabe o que se sabe e o que não se sabe e atinge-se a loucura.

Porque o cérebro humano onde é armazenada a memória consciente e inconsciente tem limites. Exceptuando os acidentes cerebrais que afectam a memória, não raro se conhecem pessoas que ficaram esquizofrénicas ou com outras doenças mentais devido a estudos excessivos. E as crianças sobredotadas, que futuro se lhes reserva?!

A evolução humana só foi possível porque foram muitos cérebros a pensar ao longo de milénios. Cada um deu potencialmente uma minúscula contribuição. Imaginemos que necessitamos da fórmula BDH e cada cérebro só comporta três letras. O primeiro comporta ABC, o segundo comporta DEF e o terceiro GHI. Um quarto cérebro pode aprender dos outros três as letras BDH, sem os quais nunca lá chegaria. No entanto este quarto cérebro nunca saberá as outras letras. Quantas coisas não se terão já perdido no tempo? E, no entanto, sendo o alfabeto limitado, não teremos já atingido tudo em certos campos?

Um homem só nunca poderá saber tudo, é impossível, por isso deve seleccionar o que deseja saber, e deve tentar saber só o que lhe é mais importante, o que mais lhe interessa, mais lhe convém, mais lhe é agradavelmente bom e o que é mais humanamente tolerável e moralmente correcto.

Diz-se muitas vezes que a história se repete. Mas os homens não, os homens são sempre outros ainda que vivam a mesma história, e afinal o que importa é viver. Cada homem é uma vida. E a diversidade é a coisa mais bela. A diversidade de ideias, de culturas, impérios, raças, civilizações, filosofias, religiões, a diversidade de homens... de toda a história passada, da actualidade presente e do imprevisível futuro, porque, como dizia o Filósofo Sydney Harrys “nenhuma forma de vida é por si só totalmente boa, a combinação é todo. A vida é a arte de misturar ingredientes em proporções toleráveis.”

Seria bom se soubéssemos isto.

Sá Lopes

(Ano de 1998)

Portugal — Sua História e Lugar no Mundo


(Artigo recuperado)


Portugal — Sua História e Lugar no Mundo


Descendentes de vários povos anti­gos — celtas e iberos — e das influên­cias de outros povos de outras re­giões através das invasões — feníci­os, gregos, romanos, bárbaros e ára­bes — Portugal nasce, tornando-se independente do reino de Leão e forma-se através da reconquista dos cristãos aos árabes, criando as fron­teiras com que hoje se limita após 850 anos de história, sendo o país geograficamente mais antigamente de­marcado.

A sua boa localização geográfica, a antiguidade do seu povo e as influências de conhecimentos de outros po­vos, fazem com que os lusitanos se lancem na descoberta de outras re­giões pela curiosidade e, mais tarde, pelo comércio.

Iniciada pela mais famosa escola de navegação, fundada por D. Henri­que, a conquista e descoberta de ou­tras terras iniciou-se pelo Norte de África, seguindo-se Açores e Madei­ra e toda a costa africana, chegando onde nenhum outro povo havia che­gado, ao Cabo da Boa Esperança e de seguida ao caminho marítimo para a Índia. A par de Portugal, ou­tros povos europeus viajaram para ocidente, descobrindo a América, nomeadamente a Espanha, com a qual Portugal, no auge do seu impé­rio, divide todo o Mundo.

O movimento dos portugueses por todo o Mundo visava a colonização de uma raça considerada superior, a evangelização do cristianismo e o comércio de bens como especiarias, ouro, seda, etc. Com todo este comércio, os reis portugueses fazem de Portu­gal um dos países mais ricos e com vasto império colonial.

Esse império é ambicionado por outros países. Por crises internas, Portugal é afectado por guerras. E é ocupado por Espanha, durante seis décadas. Restaurada a independência, Por­tugal continua a explorar o seu impé­rio, agora mais voltado para o oci­dente. Do Brasil chegam grandes ri­quezas e o poder português coopera com outras potências europeias. São assinados tratados comerciais de impor­tação e exportação de bens, em que Portugal se destaca com o vinho do Porto.

Portugal começa a perder o impé­rio. É devastado com as invasões francesas. Dá-se o terramoto de Lis­boa. A família real portuguesa foge para o Brasil. Há divisão de poderes e o Brasil toma-se independente da metrópole.

Consequência da revolução indus­trial, com o progresso tecnológi­co, e da revolução francesa, com o progresso cultural e social, Portugal perde poder relativamente aos países europeus. Dá-se a partilha de Africa. Portugal torna-se um país republi­cano e entra na Primeira Guerra Mundial. O regime absolutista por­tuguês impera e tenta manter o anti­go império colonial enquanto que to­dos os outros países europeus dão independência às suas colónias. Não participando na Segunda Guerra Mundial, Portugal vê-se, no entanto, forçado a guerras coloniais por todos os países que desejam a independên­cia.

Dá-se a revolução da liberdade no 25 de Abril e Portugal entrega e abandona todas as antigas colónias a si próprias, ficando só com os Açores e a Madeira que acabam por se tor­nar regiões autónomas.

Actualmente, Portugal é um país de pouco poder económico, compen­sado em parte pela adesão à Comu­nidade Económica Europeia, actual União Europeia, social e cultural, com tendência a homogeneização a todos os níveis.

Portugal, sendo actualmente um país democrático e livre, civilizado e moderno, pactua com todos os países em tratados internacionais de inte­resses mútuos. E destacado pelos ou­tros pelas referências à sua gloriosa história, que deixou marcas por to­dos os cantos do Mundo, desde Timor e Índia, pela Africa, até à Amé­rica, e todos os emigrantes em todos os países dignificando a nossa cultu­ra, a oitava língua mais falada, os nossos feitos, os nossos descobrido­res, os nossos artistas e poetas, os nossos povos trabalhadores, o nosso futebol, o nosso folclore e o nosso fado.


Sá Lopes

(Ano de 1996)

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Desenvolvimento do Software Humano


Artigo


Desenvolvimento do Software Humano

A Organização Mundial de Saúde acaba de anunciar que dentro de 10 anos a Depressão será a principal causa de invalidez humana. A corroborar essa previsão, em Portugal, o consumo de medicamentos anti-depressivos aumentou 50% em 5 anos.

Esta notícia não podia ser mais conveniente, considerando que é publicada na mesma semana em que Bill Gates, o homem mais rico do mundo, visitou Portugal.

Embora parecendo inexistente, a relação entre os dois factos é grande e merece ser analisada.

Bill Gates criou o maior império económico mundial pelo seu trabalho focalizado nos programas para computadores. Investiu naquilo que pode ser considerado a “mente” ou a “alma” dos computadores. Os seus produtos não são físicos, são lógicos, matemáticos e imateriais. Todos os outros fabricantes de computadores, que investiram nos aparelhos, nas máquinas, nas peças, enfim, em todos os aspectos físicos do computador, nunca conseguirão alcançar a fortuna da Microsoft de Bill Gates.

Da mesma forma, todos nós – quase todos nós – investimos diariamente o nosso dinheiro com o nosso corpo. Nos ginásios, nos cabeleireiros, nos institutos de beleza, nos prontos-a-vestir, nos acessórios como jóias, telemóveis e automóveis. Somos inclusive levados as reduzir à alimentação saudável, ao descanso e ao convívio, entre outros, de forma a potencializar tal investimento.

Agimos como se preferíssemos ter um Ferrari e não soubéssemos ou pudéssemos conduzir em vez de preferirmos saber e poder conduzir e ter um automóvel de gama baixa.

Bill Gates disse, em Lisboa, que “o cérebro humano é um computador incrível”. Naturalmente referia-se ao seu funcionamento e não ao órgão físico. A mente humana é o programa que põe todo o organismo a funcionar, para o bem e para o mal. De que serve termos uma boa imagem, boa roupa e bons objectos, se não sabemos comportar-nos ou se não dominamos as nossas emoções e as nossas relações familiares, sociais e profissionais!? De que serve termos um computador topo de gama se ainda usamos o MS-DOS!?

Serve isto para dizer que se não alterarmos o nosso modo de funcionamento; se não começarmos a investir mais em termos um bom equilíbrio mental, emocional, afectivo, ou psicológico; se não renovamos o nosso sistema operativo, de forma a acompanhar o nosso corpo físico; se não pensarmos que, da mesma forma que procuramos um cabeleireiro para tratarmos o cabelo, ou um enfermeiro para tratarmos uma ferida, ou um médico para tratarmos um desequilíbrio orgânico, devemos procurar um psicólogo para tratar um desequilíbrio psicológico – porque são os psicólogos que melhor estão preparados para solucionar problemas ao nível do “software” humano… Se não alterarmos o nosso modo de ser e de estar perante estas realidades, dentro de 10 anos, segundo a OMS, poderemos fazer parte da lista dos indivíduos inválidos devido à depressão, ou a outras doenças de carácter psicológico.

3 de Fevereiro de 2006

Sá Lopes

terça-feira, janeiro 24, 2006

Ser Normal

artigo


Ser Normal

O que é uma pessoa normal?

Se pedirmos a uma pessoa para distribuir vinte laranjas por outras vinte pessoas, o que vai acontecer?

Teoricamente imaginaríamos que essa pessoa distribuiria uma laranja por cada uma das vinte pessoas. Mas na prática não é isso o que acontece.

Na prática, o que vai acontecer é o resultado da atitude da pessoa que distribui as laranjas juntamente com as atitudes das pessoas que recebem as laranjas e com a interacção entre todas.

A pessoa que distribui as laranjas pode optar por dar uma laranja a cada uma das outras vinte, mas também pode dar as laranjas todas a uma só pessoa. Ou dar laranjas apenas às pessoas que têm mais necessidade ou às que gostam muito de laranjas. Ou pode ainda dar as laranjas a todas as pessoas e elas fazem a distribuição como quiserem.

Entre ficar cada pessoa com uma laranja, e ficar uma só pessoa com as vinte laranjas e as outras dezanove sem laranjas, pode acontecer um número muito elevado de possibilidades.

Agora imaginemos que em vez de termos uma só pessoa a distribuir laranjas temos mil pessoas. E vamos ver como foi o resultado das mil distribuições. Isto é, como foram distribuídas as vinte laranjas por vinte pessoas, mil vezes. Somamos os resultados e calculamos a média.

Imaginemos que o resultado médio indica que, em cada vinte, seis pessoas não receberam laranjas, dez pessoas receberam apenas uma laranja, três pessoas receberam duas laranjas, e uma pessoa recebeu quatro laranjas.

A pessoa normal seria aquela que fez exactamente esta distribuição. Aquela que isolada distribuiu as laranjas da mesma forma que a média das outras todas juntas. Mas essa pessoa pode não existir. Pode-se obter aquela média sem que nenhuma pessoa tivesse efectuado aquela distribuição. O que significa que, ainda que se saiba o que é uma pessoa normal, na prática, essa pessoa pode não existir.

Embora cientificamente estes cálculos pudessem ser bastante mais exigentes, é esta a ideia. Agora basta transpô-la para o nosso quotidiano. Nos negócios, nas relações, nas doenças, nas crenças, enfim, em tudo o que preenche a nossa vida.

Nós até podemos saber o que é uma pessoa normal. Difícil é encontrá-la.

Conclui-se assim que, em conjunto, podemos saber o que é ser normal, mas analisando cada pessoa individualmente, e reunindo todas as características que compõem o que é “ser-se pessoa”, é impossível encontrar alguém normal!


24 de Janeiro de 2006

Sá Lopes

Enriquecimento versus Empobrecimento

artigo

Enriquecimento versus Empobrecimento


Portugal é o país da União Europeia com maior amplitude entre ricos e pobres. É o país com maior desigualdade social, onde os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.


E isso acontece porque existe uma estrutura criada que conduz aqueles que, no interior dessa amplitude, não sendo ricos nem pobres, sejam levados a transferir o seu dinheiro para os mais ricos.


Senão vejamos. Se uma pessoa encontrar num parque de estacionamento estacionados a par um Mercedes recente e uma carrinha comercial antiga, quem julga ser o dono mais rico? Naturalmente o dono do Mercedes.


Mas isso pode não corresponder à verdade. Pois em Portugal vive-se de aparência, do fazer-de-conta. O dono do Mercedes, porque quer ser rico e conseguiu empréstimo para o adquirir, a partir daqui só vai empobrecer. O dono da carrinha, porque não gastou tanto dinheiro para a adquirir e porque a usa para trabalhar, a partir daqui só vai enriquecer.

Tudo aquilo que compramos, se não servir para produzir riqueza, só nos vai empobrecer.

Os ricos não compram. Os ricos vendem.


Os maiores ricos de Portugal são aqueles que vendem tudo, todos os dias, a todos os portugueses. E são poucos.


São os donos do grupo PT, que vendem os serviços e produtos do telefone fixo, vendem os serviços e produtos da TMN, vendem a TV cabo, vendem a internet Sapo, a Telepac, etc.


São os donos da EDP e da Galp, que vendem a electricidade, o gás, combustíveis, e muitos outros serviços menos conhecidos, como a Oni.


São os donos da Sonae, que vendem tudo nos centros comerciais e nos hipermercados Continente e Modelo, e na Worten, na Vobis, na Novis e na Optimus. O principal dono da Sonae foi considerado no último ano o 387º homem mais rico do mundo, e foi o único português entre os mil mais ricos, porque a PT, a EDP e a Galp ainda são alguma parte do estado, que não tem nenhum dono – ou somos todos nós.


São também os donos da Brisa, porque vendem muitas coisas relacionadas com as auto-estradas.


São ainda os donos do Grupo Amorim. E do Grupo Jerónimo Martins, que vende tudo no Feira Nova, Pingo Doce, Recheio, e até os gelados da Olá.


E são dos donos dos bancos, BCP e BPI – e ainda da CGD, mas esta é parcialmente do estado – que vendem dinheiro. Que todos compram – a preço de ouro – para comprar outras coisas que só servem para empobrecerem. Os empréstimos, os seguros, as poupanças, se não servirem para produzir riqueza só nos vão empobrecer.


Naturalmente todos conhecemos muitos outros ricos a vender em Portugal, mas estes são os principais e servem de exemplo. Uma breve análise à publicidade em Portugal demonstrará que quase todos os produtos e serviços publicitados pertencem a estes grupos económicos, que inclusive se encontram interligados entre si.


Sempre que alguém compra alguma coisa em Portugal, está a enriquecer algum destes donos dos monopólios portugueses.


Desde uma simples peça de fruta, até um lcd ou um automóvel, é para estes ricos que o dinheiro da classe média vai. Sim porque os que são mesmo pobres vivem da caridade ou compram só para satisfazer as necessidades elementares.


Mas há uma forte camada social, iludida no dinheiro e enriquecimento fácil, que sem se dar conta, compra cada vez mais aquilo que não necessita, mostrando um poder económico que não tem, sem perceber que com essa atitude está a favorecer o enriquecimento dos que já são ricos, e, simultaneamente, o auto-empobrecimento.


Porque tudo aquilo que compramos, se não servir para nos enriquecer – para trabalharmos, ganharmos tempo, dinheiro, ou saúde – só nos vai empobrecer.

7 de Janeiro de 2006

Sá Lopes

Liberdade, Igualdade, Fraternidade!

artigo-ficção


Liberdade, Igualdade, Fraternidade!

“Olá! O meu nome é Mike. Vivo num bairro no norte de Paris. Os meus pais vieram de outro país viver para a França. O país em que eles nasceram andava em guerra e tiveram que procurar que comer. Mas não foi fácil para eles. Estavam ilegais aqui. No princípio trabalharam em tudo o que aparecia. O meu pai foi para os estaleiros trabalhar com outro amigo. Mas o amigo dele teve um acidente e morreu. E o patrão disse que ele não trabalhava lá. Mais tarde os meus pais acabaram por se legalizar. Mas eu nunca tive um cartão com o meu nome. Depois nasceram os meus irmãos. O dinheiro dos meus pais nunca chegou para termos o que queríamos. Ainda andei numa escola, mas os professores não me ensinavam nada. Diziam que eu e os meus amigos nunca aprenderíamos a língua que se falava em França. E todos ficávamos ao canto da sala. Então desisti da escola. Em casa nunca disse nada porque o meu pai batia-me. Tentei procurar trabalho. Queria ganhar dinheiro para ter as mesmas coisas que os rapazes mais velhos tinham. Usar as mesmas roupas que eles, e não aquele roupa que a minha mãe trazia nem sei de onde. Saí de casa a pedir emprego em vários lados. Mas tinha que ser ilegal, porque ainda não tinha idade. Desisti. Quando andava na rua, todos olhavam para mim. Ou por ter uma cor diferente na pele, ou por estar mal vestido, não sei. Afastavam-se e nunca me davam emprego. Parece que tinham medo de mim. Por isso não podia sair do meu bairro. Os únicos com quem me sentia bem eram os meus amigos da rua. Eles é que me compreendiam. E também eles não se sentiam bem fora do bairro.

Mas à noite era diferente! Saíamos tarde, mas ninguém nos chateava. A cidade era toda nossa. Quase toda!... Andávamos pelas ruas e pelas praças sem problemas. Quando nos cruzávamos com outras pessoas alguém se afastava. Ou os outros ou nós. Tínhamos medo da polícia. Um dos nossos amigos já tinha sido ferido por um polícia. Tirando isso, a rua era nossa. E a noite também. Dormíamos de dia. E, claro, quando víamos coisas boas ao nosso alcance não ficavam lá. Também tínhamos direito a ter alguma coisa nossa. Nós não tínhamos culpa da nossa cor da pele ser diferente ou dos nossos pais não terem dinheiro. Também gostávamos de música, de equipamentos de luta e desporto, etc.

Mas uma noite as coisas correram mal. A polícia apanhou-nos a fazer o que não devíamos fazer e persegui-nos. Éramos muitos e fugimos todos. Cada um correu quanto pode e escondeu-se no primeiro buraco que encontrou. Dois dos meus melhores amigos conseguiram esconder-se no pior lugar possível. Não sei como conseguiram entrar lá. Não se deviam ter escondido naquele sítio, mas se conseguiram é porque não havia protecção. Era um posto de transformação de energia. Morreram os dois electrocutados. Queimados vivos!...

Eram os meus melhores amigos! Ficamos irritados e transtornados! Apetecia-nos fazer o mesmo aos polícias. Queimá-los também! Mas não conseguíamos. Ficamos com tanto ódio que se um carro deles se aproximasse éramos capazes de o destruir. Mas não o fazíamos porque eles estavam sempre armados e nós tínhamos que fugir. Até que um de nós não aguentou. Não aguentou o ódio que sentia. Pela perda dos amigos! Por tudo! E… Como não conseguia incendiar os polícias nem os carros deles, começou a lançar fogo a tudo o que aparecesse…

O resto da história todos sabem, porque os jornais e a televisão falaram disso por todo o mundo!...

Eu agora estou escondido. Pois se os polícias me apanham enviam-me a mim, e talvez a toda a minha família, para o país dos meus pais! Mas eu continuo a pensar que também tenho direito a viver num país rico, e livre, como é a França. Mike”

12 de Novembro de 2005

Sá Lopes

Não há Políticos Profissionais

artigo


Não há Políticos Profissionais

Os candidatos à presidência da república trouxeram à berlinda a questão de serem ou não políticos profissionais. E o tema tem sido alvo de amplo debate, quer pelos próprios quer pela comunicação social, e até já conferencistas se debruçaram sobre a questão.

Ser ou não ser político profissional é uma questão que pode ser abordada de dois ângulos. Por um lado pode-se considerar o “ser profissional” como aquela integração de qualidades que atribuem um nível de profissionalismo, competência e dedicação na execução de funções ou tarefas que conduzem ao sucesso de quem as detém. Mas por outro lado, pode ser abordada no sentido concreto daquilo que é uma profissão e de todas as características que a mesma contém, seja ela qual for.

Ao referir-se a esta questão, o candidato Mário Soares – primeiro utilizador da expressão nesta campanha – utilizou os conceitos de carreira, progressão, projectos futuros, etc. e a discussão desenvolveu-se em torno destes conceitos, pelo que se pode concluir que a abordagem ao tema acontece apoiada no segundo ângulo exposto.

Ora, neste sentido, encontramo-nos perante um erro conceptual. Pois não faz sentido utilizar a expressão “Político Profissional” porque não há políticos profissionais. Não existe a profissão de político. Não há uma carreira profissional na política. Não existem funções gerais nem específicas do político. Nem existe formação concreta para a prática da política. Assim como não existe a “Ordem dos Políticos” ou o “Sindicato dos Políticos”.

O exercício da política surge como um serviço livre à comunidade por parte de pessoas com as mais diversas profissões e formações – advogados, economistas, médicos, sociólogos, etc. – que só exercem essas funções porque se disponibilizam para tal e, por sua vez, os restantes membros da comunidade concordam e apoiam, vendo neles seus representantes. Naturalmente, como cessam as suas actividades normais, merecem receber uma compensação financeira, mas que não é uma remuneração normal. Não recebem por serem políticos, mas recebem por serem presidentes, ministros, governadores, administradores etc.

Os políticos não tiram o curso de política e depois empregam-se fazendo política, e gerem uma carreira na política. A política está para além desse conceito de profissão. Um político só integra longos percursos políticos quando demonstra qualidades superiores que lhe permitem alcançar tais lugares de liderança, mas sempre estando em concordância com aqueles que o apoiam, pois são os mesmos que atribuem tais cargos.

Esta constatação é tanto mais real quanto mais democrático e republicano for o regime. E mesmo nos regimes totalitários não faz sentido utilizar o conceito de “Políticos Profissionais”. Um líder imposto aos seus súbditos não é profissional por isso. Um príncipe que seja formado toda a sua vida com o objectivo de ser um bom rei e representar bem – politicamente – o seu país, não é um profissional. Tem um título e não uma profissão.

O exercício da política é um acto de liberdade. Deve ser efectuado com o máximo de profissionalismo e respeito pelos direitos humanos. Mas um político, enquanto actuante na política, não é, só por isso, um profissional. Pois não existem políticos profissionais.


10 de Dezembro de 2005

Sá Lopes

O Fim da Língua Portuguesa

artigo-opinião

O Fim da Língua Portuguesa


O Primeiro-Ministro, José Sócrates, em cumprimento de uma das suas promessas eleitorais – por ventura, uma das mais bem recebidas pela população – deu já início à implementação do ensino do Inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico.


Embora ainda na sua fase inicial, fácil será prever que, em breve, todas as escolas do primeiro ciclo terão aulas de Inglês. Aliás, já escolas havia que se vangloriavam por ensinar esta língua estrangeira anteriormente à aplicação da medida do governo, como também, a mesma língua era ensinada mesmo no ensino pré-escolar, a meninos com menos de 6 anos.

Os próprios pais destes meninos ficam muito satisfeitos por verem os seus filhos dominarem uma língua exterior, mesmo quando, eles próprios, mal compreendem o Português.

Acrescente-se a isto um conjunto de outras realidades que apenas servem para aumentar, exponencialmente, o uso da língua inglesa, tais como o uso das novas tecnologias; a internet; os próprios manuais dos produtos adquiridos em Portugal, que contêm traduções incompreensíveis… Enfim, a globalização!...

As empresas, ainda que portuguesas, comunicam, entre si, em língua inglesa. Os congressos científicos realizados em Portugal utilizam o Inglês como língua oficial. Nas universidades, os professores indicam referências de obras em língua inglesa e aconselham os alunos a saberem Inglês para poderem concluir os estudos. As editoras não traduzem muitas obras de referência porque o mercado (por ser pequeno) não é compensador.

As marcas, com origem em Portugal, vendem mais se forem “inglesas”, e as rádios só passam música inglesa, ainda que de bandas portuguesas (com nome inglês), porque, para os jovens, cantar “i love you and you love me too” é bonito, mas cantar “eu amo-te e tu também me amas” é “pimba”.

Muitas vezes se vêm os políticos e outros representantes de Portugal a falar em Inglês para estrangeiros, mas dificilmente se vêm estrangeiros a falar Português para portugueses.

Naturalmente que o mundo seria mais compreensível – e quiçá mais justo – se todos falássemos a mesma língua, pois as energias que se gastam a aprender, traduzir e ensinar outras línguas poderiam ser encaminhadas para objectivos mais benéficos para o ser humano.

Mas a história e a natureza do ser humano são o que são, e a sua diversidade é uma das suas maiores riquezas. Se um dia vai haver uma linguagem universal, quem viver verá! A história humana é imprevisível, ainda que o Inglês aparente seguir esse rumo.

Uma coisa é certa, por ser mais pobre, a língua inglesa é muito mais fácil de aprender do que a portuguesa. É muito mais fácil falar e escrever, sem erros, em Inglês do que em Português. O que significa que, é necessário mais esforço para aprender Português do que para aprender Inglês. E o ser humano, por natureza, procura o caminho mais fácil. O que implica um maior investimento no mais difícil.

É exactamente o que o governo não está a fazer.

Portugal quase já perdeu a sua autonomia política e económica. Neste caminho, será dos primeiros a perder a sua histórica linguagem. Já há países – ex-colónias – que trocaram a língua oficial de Português para Inglês. Resta-nos o grande Brasil, que mantém esta língua, mas, na sua versão, vai passar a ser – como em muitos locais já é – brasileiro.

É bom ser português e viajar pelo mundo inteiro sem problemas porque se sabe falar Inglês. Mas quando Portugal deixar de falar Português, quem vai ser o português por esse mundo fora?!

A nossa língua é o que nos resta da nossa identidade! Será que a queremos enobrecer? Ou será a primeira das grandes línguas a morrer em nome da globalização?

As crianças que hoje iniciam a aprendizagem do Inglês vão utilizar apenas esta língua no seu futuro profissional, daqui a 20 ou 30 anos. E nesse tempo, vão ser inúteis manifestações de minorias radicais em prol de uma língua, que em breve, fará parte – apenas – da história da humanidade.

19 de Outubro de 2005

Sá Lopes