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Não há Políticos Profissionais
Os candidatos à presidência da república trouxeram à berlinda a questão de serem ou não políticos profissionais. E o tema tem sido alvo de amplo debate, quer pelos próprios quer pela comunicação social, e até já conferencistas se debruçaram sobre a questão.
Ser ou não ser político profissional é uma questão que pode ser abordada de dois ângulos. Por um lado pode-se considerar o “ser profissional” como aquela integração de qualidades que atribuem um nível de profissionalismo, competência e dedicação na execução de funções ou tarefas que conduzem ao sucesso de quem as detém. Mas por outro lado, pode ser abordada no sentido concreto daquilo que é uma profissão e de todas as características que a mesma contém, seja ela qual for.
Ao referir-se a esta questão, o candidato Mário Soares – primeiro utilizador da expressão nesta campanha – utilizou os conceitos de carreira, progressão, projectos futuros, etc. e a discussão desenvolveu-se em torno destes conceitos, pelo que se pode concluir que a abordagem ao tema acontece apoiada no segundo ângulo exposto.
Ora, neste sentido, encontramo-nos perante um erro conceptual. Pois não faz sentido utilizar a expressão “Político Profissional” porque não há políticos profissionais. Não existe a profissão de político. Não há uma carreira profissional na política. Não existem funções gerais nem específicas do político. Nem existe formação concreta para a prática da política. Assim como não existe a “Ordem dos Políticos” ou o “Sindicato dos Políticos”.
O exercício da política surge como um serviço livre à comunidade por parte de pessoas com as mais diversas profissões e formações – advogados, economistas, médicos, sociólogos, etc. – que só exercem essas funções porque se disponibilizam para tal e, por sua vez, os restantes membros da comunidade concordam e apoiam, vendo neles seus representantes. Naturalmente, como cessam as suas actividades normais, merecem receber uma compensação financeira, mas que não é uma remuneração normal. Não recebem por serem políticos, mas recebem por serem presidentes, ministros, governadores, administradores etc.
Os políticos não tiram o curso de política e depois empregam-se fazendo política, e gerem uma carreira na política. A política está para além desse conceito de profissão. Um político só integra longos percursos políticos quando demonstra qualidades superiores que lhe permitem alcançar tais lugares de liderança, mas sempre estando em concordância com aqueles que o apoiam, pois são os mesmos que atribuem tais cargos.
Esta constatação é tanto mais real quanto mais democrático e republicano for o regime. E mesmo nos regimes totalitários não faz sentido utilizar o conceito de “Políticos Profissionais”. Um líder imposto aos seus súbditos não é profissional por isso. Um príncipe que seja formado toda a sua vida com o objectivo de ser um bom rei e representar bem – politicamente – o seu país, não é um profissional. Tem um título e não uma profissão.
O exercício da política é um acto de liberdade. Deve ser efectuado com o máximo de profissionalismo e respeito pelos direitos humanos. Mas um político, enquanto actuante na política, não é, só por isso, um profissional. Pois não existem políticos profissionais.
10 de Dezembro de 2005
Sá Lopes
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