terça-feira, janeiro 24, 2006

O Fim da Língua Portuguesa

artigo-opinião

O Fim da Língua Portuguesa


O Primeiro-Ministro, José Sócrates, em cumprimento de uma das suas promessas eleitorais – por ventura, uma das mais bem recebidas pela população – deu já início à implementação do ensino do Inglês no 1º Ciclo do Ensino Básico.


Embora ainda na sua fase inicial, fácil será prever que, em breve, todas as escolas do primeiro ciclo terão aulas de Inglês. Aliás, já escolas havia que se vangloriavam por ensinar esta língua estrangeira anteriormente à aplicação da medida do governo, como também, a mesma língua era ensinada mesmo no ensino pré-escolar, a meninos com menos de 6 anos.

Os próprios pais destes meninos ficam muito satisfeitos por verem os seus filhos dominarem uma língua exterior, mesmo quando, eles próprios, mal compreendem o Português.

Acrescente-se a isto um conjunto de outras realidades que apenas servem para aumentar, exponencialmente, o uso da língua inglesa, tais como o uso das novas tecnologias; a internet; os próprios manuais dos produtos adquiridos em Portugal, que contêm traduções incompreensíveis… Enfim, a globalização!...

As empresas, ainda que portuguesas, comunicam, entre si, em língua inglesa. Os congressos científicos realizados em Portugal utilizam o Inglês como língua oficial. Nas universidades, os professores indicam referências de obras em língua inglesa e aconselham os alunos a saberem Inglês para poderem concluir os estudos. As editoras não traduzem muitas obras de referência porque o mercado (por ser pequeno) não é compensador.

As marcas, com origem em Portugal, vendem mais se forem “inglesas”, e as rádios só passam música inglesa, ainda que de bandas portuguesas (com nome inglês), porque, para os jovens, cantar “i love you and you love me too” é bonito, mas cantar “eu amo-te e tu também me amas” é “pimba”.

Muitas vezes se vêm os políticos e outros representantes de Portugal a falar em Inglês para estrangeiros, mas dificilmente se vêm estrangeiros a falar Português para portugueses.

Naturalmente que o mundo seria mais compreensível – e quiçá mais justo – se todos falássemos a mesma língua, pois as energias que se gastam a aprender, traduzir e ensinar outras línguas poderiam ser encaminhadas para objectivos mais benéficos para o ser humano.

Mas a história e a natureza do ser humano são o que são, e a sua diversidade é uma das suas maiores riquezas. Se um dia vai haver uma linguagem universal, quem viver verá! A história humana é imprevisível, ainda que o Inglês aparente seguir esse rumo.

Uma coisa é certa, por ser mais pobre, a língua inglesa é muito mais fácil de aprender do que a portuguesa. É muito mais fácil falar e escrever, sem erros, em Inglês do que em Português. O que significa que, é necessário mais esforço para aprender Português do que para aprender Inglês. E o ser humano, por natureza, procura o caminho mais fácil. O que implica um maior investimento no mais difícil.

É exactamente o que o governo não está a fazer.

Portugal quase já perdeu a sua autonomia política e económica. Neste caminho, será dos primeiros a perder a sua histórica linguagem. Já há países – ex-colónias – que trocaram a língua oficial de Português para Inglês. Resta-nos o grande Brasil, que mantém esta língua, mas, na sua versão, vai passar a ser – como em muitos locais já é – brasileiro.

É bom ser português e viajar pelo mundo inteiro sem problemas porque se sabe falar Inglês. Mas quando Portugal deixar de falar Português, quem vai ser o português por esse mundo fora?!

A nossa língua é o que nos resta da nossa identidade! Será que a queremos enobrecer? Ou será a primeira das grandes línguas a morrer em nome da globalização?

As crianças que hoje iniciam a aprendizagem do Inglês vão utilizar apenas esta língua no seu futuro profissional, daqui a 20 ou 30 anos. E nesse tempo, vão ser inúteis manifestações de minorias radicais em prol de uma língua, que em breve, fará parte – apenas – da história da humanidade.

19 de Outubro de 2005

Sá Lopes

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