quinta-feira, março 30, 2006

Queremos nascer políticos!

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Queremos nascer políticos!

É muito curioso o comportamento dos políticos quando estão em debate questões que afectam directamente aqueles que os elegeram. E esse aspecto observa-se melhor quanto menor for a distância entre ambos, nomeadamente no poder político local, onde os eleitos e os eleitores podem, por ventura, cruzarem-se todos os dias nas mesmas ruas.

Vem isto a propósito do encerramento das maternidades e das posições que alguns defensores e opositores têm tomado. Seria um bom exemplo o caso da Governadora Civil que colocou fraldas à sua janela em protesto contra o encerramento de uma maternidade da sua região, protesto este que vem contra a decisão do governo que ainda recentemente a nomeou governadora - o que lhe terá provocado um grande dilema pessoal.

Mas pretendemos abordar a questão do encerramento da maternidade de Barcelos devido às posições que os representantes políticos desta localidade têm tomado.

O Presidente da Câmara de Barcelos, Fernando Reis, anunciou publicamente que a Câmara apoiará todas as manifestações que visem impedir o encerramento da maternidade local, incluído com a iniciativa de distribuir por todos os habitantes postais para serem enviados para o Ministro da Saúde. Apoiará, registe-se, com dinheiro da Câmara, isto é, de todos os contribuintes, incluindo aqueles que concordam com o seu encerramento.

O Presidente da Câmara de Barcelos (do PSD) já ocupa o lugar há muitos anos e sabe muito bem o que é que os eleitores querem. Logo, ao ver que a maioria dos habitantes de Barcelos se opunha ao encerramento da sua maternidade decidiu tomar uma posição clara e de forte impacto, que, mesmo não trazendo resultados para o problema, trará certamente resultados políticos.

Por sua vez, o deputado, de Barcelos, do Partido Socialista, na Assembleia da República, tem dúvidas em relação aos critérios que levaram à decisão sobre o encerramento desta maternidade, sabendo que há relatórios das investigações que indicam que este é o melhor caminho, necessitando ainda de mais informações para tomar uma posição mais definitiva.

O Presidente da Câmara não tem dúvidas, não tem nada a perder, e pelo contrário, tem muito a ganhar ao estar ao lado da população, ainda que “com irregularidades”. O deputado do PS tem dúvidas, e tem a perder, ou o apoio do partido ou o apoio dos eleitores, mas seria bom que tomasse uma posição, clara, para que o povo de Barcelos soubesse que posições toma quem o representa na Assembleia da República.

Mais do que a preocupação com o encerramento da Maternidade, os políticos estão preocupados com aquilo que esta decisão, por ventura errada, lhes poderá oferecer ou retirar, enquanto detentores de poder.

Sá Lopes

30 de Março de 2006

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