terça-feira, janeiro 24, 2006

Enriquecimento versus Empobrecimento

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Enriquecimento versus Empobrecimento


Portugal é o país da União Europeia com maior amplitude entre ricos e pobres. É o país com maior desigualdade social, onde os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.


E isso acontece porque existe uma estrutura criada que conduz aqueles que, no interior dessa amplitude, não sendo ricos nem pobres, sejam levados a transferir o seu dinheiro para os mais ricos.


Senão vejamos. Se uma pessoa encontrar num parque de estacionamento estacionados a par um Mercedes recente e uma carrinha comercial antiga, quem julga ser o dono mais rico? Naturalmente o dono do Mercedes.


Mas isso pode não corresponder à verdade. Pois em Portugal vive-se de aparência, do fazer-de-conta. O dono do Mercedes, porque quer ser rico e conseguiu empréstimo para o adquirir, a partir daqui só vai empobrecer. O dono da carrinha, porque não gastou tanto dinheiro para a adquirir e porque a usa para trabalhar, a partir daqui só vai enriquecer.

Tudo aquilo que compramos, se não servir para produzir riqueza, só nos vai empobrecer.

Os ricos não compram. Os ricos vendem.


Os maiores ricos de Portugal são aqueles que vendem tudo, todos os dias, a todos os portugueses. E são poucos.


São os donos do grupo PT, que vendem os serviços e produtos do telefone fixo, vendem os serviços e produtos da TMN, vendem a TV cabo, vendem a internet Sapo, a Telepac, etc.


São os donos da EDP e da Galp, que vendem a electricidade, o gás, combustíveis, e muitos outros serviços menos conhecidos, como a Oni.


São os donos da Sonae, que vendem tudo nos centros comerciais e nos hipermercados Continente e Modelo, e na Worten, na Vobis, na Novis e na Optimus. O principal dono da Sonae foi considerado no último ano o 387º homem mais rico do mundo, e foi o único português entre os mil mais ricos, porque a PT, a EDP e a Galp ainda são alguma parte do estado, que não tem nenhum dono – ou somos todos nós.


São também os donos da Brisa, porque vendem muitas coisas relacionadas com as auto-estradas.


São ainda os donos do Grupo Amorim. E do Grupo Jerónimo Martins, que vende tudo no Feira Nova, Pingo Doce, Recheio, e até os gelados da Olá.


E são dos donos dos bancos, BCP e BPI – e ainda da CGD, mas esta é parcialmente do estado – que vendem dinheiro. Que todos compram – a preço de ouro – para comprar outras coisas que só servem para empobrecerem. Os empréstimos, os seguros, as poupanças, se não servirem para produzir riqueza só nos vão empobrecer.


Naturalmente todos conhecemos muitos outros ricos a vender em Portugal, mas estes são os principais e servem de exemplo. Uma breve análise à publicidade em Portugal demonstrará que quase todos os produtos e serviços publicitados pertencem a estes grupos económicos, que inclusive se encontram interligados entre si.


Sempre que alguém compra alguma coisa em Portugal, está a enriquecer algum destes donos dos monopólios portugueses.


Desde uma simples peça de fruta, até um lcd ou um automóvel, é para estes ricos que o dinheiro da classe média vai. Sim porque os que são mesmo pobres vivem da caridade ou compram só para satisfazer as necessidades elementares.


Mas há uma forte camada social, iludida no dinheiro e enriquecimento fácil, que sem se dar conta, compra cada vez mais aquilo que não necessita, mostrando um poder económico que não tem, sem perceber que com essa atitude está a favorecer o enriquecimento dos que já são ricos, e, simultaneamente, o auto-empobrecimento.


Porque tudo aquilo que compramos, se não servir para nos enriquecer – para trabalharmos, ganharmos tempo, dinheiro, ou saúde – só nos vai empobrecer.

7 de Janeiro de 2006

Sá Lopes

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